Parte 4
As 3h15, ainda no chuveiro e
apoiada na bola, senti o “ploc”.
“Rê, rompeu a bolsa”. Curiosa
e controladora imediatamente ergui o corpo para verificar a cor do líquido:
gruminhos, sanguinho, tudo limpinho.
Lia vem avaliar.
“Me ferrei, agora a dor vai
piorar!”
“Fica tranquila que não tem como doer mais do
que já está”, a parteira pontuou divertida. (uma vez que as contrações já
estavam muito próximas e intensas).
Então eu fiquei ali quietinha, e quando
o olho se permitia abrir eu espiava Lia e Douglas formando uma dupla na
montagem da piscina. Ela cortando a lona, preparando seus materiais sobre minha
mesa de jantar. Ele trafegando baldes e mais baldes de água quente. Caramba,
que emoção! Eu esperei tanto por esse dia, chegara a minha vez.
A madrugada avançava e eu não
encontrava posição confortável. Vontade de experimentar outras posições, de
deitar, mas sempre vinha o medinho de doer mais. A verdade é que a gente tenta
a todo custo minimizar a dor.
Sede. Muita sede, mas não conseguia beber água. Náuseas. Renata trazia gelo picado, eu molhava a boca e cuspia. Nada entrava, a ordem do dia era sair!
Sede. Muita sede, mas não conseguia beber água. Náuseas. Renata trazia gelo picado, eu molhava a boca e cuspia. Nada entrava, a ordem do dia era sair!
EO verificava os batimentos
de tempos em tempos. Eu referia muita dor durante as contrações, sentia que
eram muito próximas. Por vezes, mal terminava uma e a próxima onda começava.
Então, às 4h Lia sugeriu uma primeira avaliação. Interessante como nem sempre a
gente segue o roteiro que estabelece previamente. Minha cama estava repleta de
lona e lençóis mais velhos, mas seguimos para o quarto da Maju, pois ela dormia
no meu quarto.
Deitei sobre a cama e o mal
estar pela posição em decúbito dorsal foi imediato. Entre as contrações Lia
conseguiu realizar o toque e tão logo e iniciou o exame percebi a frustração em
seu olhar (aqui convém mencionar que Lia é a pessoa de olhar mais transparente
que eu conheço). Com aquela expressão, já sabia que não teria nem os tais 5cm
de dilatação (Linha Púrpura Paraguaia de certo). Eu não queria saber quanto tinha, e
ela não fez menção de me contar.
“Falta muito?”, soltei.
“Sim, ainda falta. Colo está
médio para fino”, respondeu do alto de sua frustrada sinceridade.
E omitiu, com a devida conduta,
que eu tinha, pasmem, apenas 1 para 2cm de dilatação. (Certamente se estivesse
no hospital, sem a companhia de uma equipe humanizada, seria conduzida nesse exato momento, a uma cesárea por “não ter dilatação”)
Na hora pensei algo como: “foooodeu!”
Sim, porque eu sabia que provavelmente teríamos muitas horas de dor ainda pela
frente. E eu já não aguentava mais tanta dor. Eu não queria mais dor. Eu
precisava conter a avalanche porque não chegaria ao cume daquele jeito.
“Lia, eu preciso entrar na
banheira, preciso frear um pouco, senão não vou aguentar”.
Ela concordou de imediato, como
sempre sensível ao desejo do nosso corpo e confiante no poder da natureza. “Acho
que a água está muito quent...” Lia nem terminou a frase e eu já estava sob a
água da piscina (rs).
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