Parte 5
Imersa
em água quentinha, de olhos fechados e boca semiaberta percebi Renata apoiar
minha cabeça em um travesseiro. Senti frio e ela depositou uma toalha sobre
meus ombros. Apagou as luzes e pediu pela minha playlist de parto. Colocou as músicas que eu havia escolhido para
aquele momento. Lembrei que tinha separado velas nos materiais do parto, mas
não tive ímpeto de pedir. A gente realmente pensa coisas que deseja, mas não
tem forças ou coragem para falar, como se cada gota de energia estivesse sendo armazenada para o
final.
Ainda que as contrações fossem bastante doloridas, pareciam
ter espaçado. No intervalo entre elas eu apagava ou me mantinha inerte. Não sei
se dormimos, desmaiamos, entramos em coma ou morremos (rs), mas o corpo sábio
nos dá uma trégua. Eu conseguia ouvir alguma conversa e por vezes respondia
perguntas que faziam uns aos outros, num misto de consciência e inconsciência. “Ela
não desliga”. Alguém na sala
chegou a comentar algo sobre esse meu estado alerta de forma cômica.
Dentro da banheira tive meus
momentos de maior introspecção. Perguntava-me porque tudo era tão avassalador. Realmente
eu não teria fotos sorrindo. Por mais de uma vez senti e verbalizei que não
conseguiria e queria realmente desistir. Ao mesmo tempo cobrava-me por pensar
friamente em parar tudo, eu desejei tanto esse momento! Não conseguia me
conectar com a Valentina e questionava: “qual o meu bloqueio?” Eu não tinha
respostas. Eu nem mesmo sei se havia um bloqueio.
E na penumbra da sala, no
aconchego do meu lar, eu tinha todos ao meu entorno. Doula à esquerda, na borda
da piscina. EO à frente e marido à direita, sentando na poltrona ou na beira do
sofá. Uma piscadela e as posições já tinham se invertido. De empós em tempos
eles se revezavam como numa dança silenciosa, e frequentemente alguém me
acariciava e segurava minha mão, que eu apertava com vontade a cada contração. Jogavam
água sobre minha barriga em meio a palavras de incentivo: “pensa que é menos
uma”, “ela está chegando”. Mas de tudo e todos, a maior surpresa foi, sem
dúvidas, a sensibilidade do Douglas em repetir por diversas vezes: “Você está
ótima, está indo muito bem”. Me sentia segura, protegida e acolhida. Não havia
espaço e tempo para o medo.
Maju oscilava entre o colo
do pai, sua mesinha de atividades ou a borda da piscina. Pedia para jogar água
na minha barriga como os demais. Conversava comigo, perguntava sobre o tampão
que saía aos poucos. Estava curiosa, mas também preparada. Assistimos a vídeos
de parto, expliquei o que poderia acontecer nesse dia. Queria partilhar com ela
esse momento, seria parte do meu legado, algo para compartilharmos enquanto
mulheres, sobre o sagrado feminino, sobre a origem da vida.
Minha playlist rodava, mas eu só me fixava em algumas passagens eventualmente. Saí algumas vezes da água para tentar outras posições, à medida que a água esfriava e as contrações intensificam. Sem contar que fui para a piscina cedo demais em termos de dilatação, o que poderia “parar” o processo. Voltava para o chuveiro, sentava no vaso sanitário, ficava em pé apoiada no Douglas, mas acabava voltando para a piscina. Douglas trazia baldes de água quente. Não queria massagem, o toque na lombar me incomodava, mas solicitava que Lia e Renata apertassem meu quadril durante algumas contrações, o que era muito bom.
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